Na semana passada escrevi sobre uma característica urbana que só pode ser observada vivenciando-se a cidade em uma escala muito aproximada. Essa é normalmente a escala em que vemos a cidade. A pé, a cidade se desenvolveu a partir dessa escala. Quando andamos a pé pela cidade, tudo é muito próximo. Com o advento do automóvel, começamos a afastar a escala. Começamos a nos isolar um pouco. As coisas são menores, mais longe, mas ainda temos contato.
Às vezes, no ônibus lotado, faço um exercício de abstração tentando imaginar como seria a visão de alguém que olha tudo isso de longe e não conhece como as coisas se desenrolam na escala aproximada. Vários seres animados muito próximos uns aos outros dentro de uma caixa que vaga por um caminho estabelecido próxima a outras caixas com mais desses corpos que seguem ou não o mesmo caminho. Como ele entenderia essa cena? Talvez como vemos um formigueiro, com uma ordem aparente, mas que não entendemos bem.
Na escala da vivência individual, parece tudo muito claro pra nós. Conforme nos afastamos para a escala do coletivo, as coisas se tornam mais complexas. Com ordem, mas não necessariamente com um sentido. Tendemos a não nos ver como parte do coletivo, pela simples falta de capacidade de abstração. Esse exercício de tentar imaginar a experiência urbana em outra escala pode nos trazer à mente a ideia de que somos parte de algo maior, muito além das ruas, calçadas e muros que nos cercam.
