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13 de março de 2009
Cidadania?
Cidadania?
Hoje, caminhando sob chuva torrencial pelas ruas do Santo Cristo (bairro do Rio de Janeiro), vi uma cena inusitada. O Santo Cristo é a capital mundial da mendicância. Tem mendigo, pedintes, pivetes de todos os tipos lá. Tem os que fingem ser mendigos, tem os que realmente são, tem os que pedem fazendo papel de coitado, tem os que pedem fazendo papel ameaçador, tem os aproveitadores, enfim, uma enorme variedade. O Santo Cristo também é um bairro sujo, fedorento, maltratado, enfim, abandonado por todos. Tem lixo jogado nas calçadas, tem lixo jogado na rua, bueiros entupidos, esgoto aflorando das tampas da tubulação. Agora você pode imaginar como fica a situação quando cai uma dessas chuvas de verão cariocas: poças que parecem rios.

Imagine um desses mendigos que ficam pelos cantos, vagando sem dar um palavra com ninguém. Um sujeito desses, sob uma forte chuva à noite deixou seus pertences em um canto, arrumou uma vara não sei de onde e pôs-se a desentupir o bueiro. Ele ficou lá, catucando o bueiro com a vara para tentar fazer a água escoar.

O cara é um mendigo. Ele não paga imposto. Ele não recebe as benesses que os impostos pagam. Ele não vota nas eleições. Não deve ter documentos. Ele não tem casa, senão a rua. Ele é um cidadão apenas no sentido de ser um "habitante da cidade", mas não como um "habitante de um estado livre, com direitos e deveres civis e políticos". Ainda assim, lá estava ele trabalhando sem cobrar nada em troca, sem reclamar, sem ter sido cobrado, apenas respondendo a um instinto cívico de ajuda mútua entre os indivíduos. O mendigo, que não vota, não paga imposto, não recebe, não tem documentos, não tem um tostão no bolso, não tem nem bolso, estava ali, sob chuva, dando exemplo de cidadania aos cidadãos que passavam tentando não se molhar. E aquele nem era o ponto dele!

O que você estava fazendo durante a chuva? Estava dentro do seu carro praguejando contra a prefeitura e os favelados em um engarrafamento, enquanto jogava uma bituca de cigarro ainda acesa pela janela? Estava acelerando o seu carro na poça, sem se importar se aquela água suja poderia dar um banho em algum pedestre? Estava em sua mansão torrando sem nem perceber o salário bancado por impostos por um serviço público realizado sem qualquer zelo (seja como secretário, professor, técnico, engenheiro ou deputado)? Estava apenas em casa, sem pensar na vida?

Eu estava apenas caminhando para o ponto de ônibus, e o mendigo estava sendo mais cidadão do que eu. Eu, que estudei a Constituição Brasileira nas aulas de OSPB (Organização Social e Política Brasileira) na (antiga) oitava série do Colégio Pedro II (público e federal). Eu, que estudei Educação moral e cívica na (antiga) quarta série do Colégio Santa Mônica (particular). Eu, pelo menos, pude observar a atitude do sujeito. E acabo de descobrir que essas matérias não são mais parte do currículo escolar.

Eu não espero que a cada chuva as pessoas saiam às ruas para desentupir bueiros por aí. O que eu acharia ótimo era que cada um tivesse a consciência de que faz parte do sistema. Que cada pequena atitude tem influência grande ou pequena, positiva ou negativa no bem-estar de todos. Não precisa desentupir o bueiro, mas podia, por exemplo, cobrar do órgão público responsável. Não precisa desentupir o bueiro, mas podia, pelo menos, não ajudar a entupir jogando porcarias nas ruas, nos ralos e nas privadas. Não precisa desentupir o bueiro, mas podia, por exemplo, exercer sua profissão (seja em empresa pública ou privada) de maneira responsável e zelosa.

Caro senador Sarney, cidadania e civilidade não se aprende apenas lendo a Constituição, é uma questão de educação e caráter. Tem "cidadão" profundo conhecedor da Constituição, que tem até cadeira na ABL e no Senado que não consegue olhar a sua volta e perceber que não tem feito o possível em nome da cidadania. Sem senso de cidadania, a democracia não vale nada. P

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