Os 5 cinco leitores assíduos do Peixe na rede podem estar pensando: "Pôxa, ele não gosta mesmo do Natal, pegou no pé legal do principal personagem do Natal..." Posso apontar dois erros nessa frase: o primeiro é que, a rigor, não tenho nada contra o Natal; e o segundo, e mais importante, é que só citei o principal personagem do Natal uma vez, e não foi em tom de deboche ou desprezo.

O Natal é o dia internacional da falsidade! Fala-se "Feliz Natal" para familiares, para amigos, para desconhecidos e até para inimigos. Fala-se "Feliz Natal" como quem diz "Bom dia" ou "Boa tarde", como um comprimento corriqueiro. Perdoa-se da boca pra fora e por dentro está amaldiçoando. Diz-se que é época de reconciliação, mas eu nunca vi ninguém se reconciliar no Natal, nem espero ver, e se vir, certamente não terá sido apenas pelo Natal. O Natal não é apenas isso. O Natal há muito perdeu o sentido, uma prova disso reside no fato de o Natal não ser comemorado apenas pelos cristãos, mas também pelos judeus, pelos muçulmanos, pelos budistas, por quem não tem religião e até pelos ateus! Isso, porque o que se comemora não é o Natal, mas sim o momento de se trocar presentes, de se reunir a família, de se empanturrar com ceia e sobremesas e, para alguns, de se fazer muito dinheiro.

Mas o Natal não é apenas isto. O Natal é antes de tudo uma data religiosa. O Natal é para os cristãos (não para os que apenas se dizem cristãos — a maioria) a data em que se celebra a vinda do Salvador, a vinda do Filho, a chegada da mensagem do Pai, a revelação da Verdade. A data, 25 de dezembro, é uma data escolhida, não tem tanta importância. Mas foi escolhida uma data pela Igreja, para que ao menos uma vez ao ano, pudéssemos relembrar Jesus, sua passagem pela Terra, sua mensagem e seu legado. Mas quem dentre os 2 milhões de pessoas que estiveram no Saara no último sábado 22 estava pensando nos ensinamentos de Jesus? Quem dentre eles vai pensar nisso nessa noite de Natal? Quase ninguém, porque eles sequer sabem quais foram os ensinamentos de Jesus.

Na última semana li uma reportagem interessante no G1 sobre o lançamento de uma exposição de arte, cujas obras retratam o que seria a visão de Deus de diversos momentos históricos e bíblicos. O grupo de artistas australiano The Glue Society manipulou fotos de satélite recriando tais momentos em visões aéreas. Mas o que mais me chamou a atenção não foi o artigo do G1, mas sim os comentários dos leitores.

São mais de 400 comentários, que variam da simples análise artística do que foi relatado no artigo até discussões do mais profundo teor filosófico e religioso. E o que mais assusta são os comentários religiosos, alguns chegam a ser engraçados... Tem gente fazendo profecias ("Bando de idiotas estão brincando com as coisas de Deus.. por isso os paises deles estão pagando.. Chuvas, Terremotos, Guerras, Vendavais, Ciclones.."), tem gente fazendo constatações "lógicas" ("Acho interessante , mas sendo Deus onipresente é falta de conhecimento imaginar os ´Olhos de Deus´ com visão apenas de cima para baixo."), tem gente fazendo constatações "históricas" aparentemente de quem testemunhou a cena ("Muito legal mesmo, mas poderiam ser um pouco mais criativos, pois no calvário, era um monte e não um chão liso, e o número de pessoas era um pouco maior.") e até gente sugerindo cenas mais picantes ("Legal, Deus aqui viu e gostou e pediu pra que alguém faça o momento em que Eva seduziu Adão !!! ").

Essa é a noção religiosa que as pessoas têm?! É isso o que eles sabem da Bíblia?! O que saberão eles de Jesus Cristo? Seria bom se o ímpeto religioso das pessoas fosse além das palavras. Bom, já dizia Siddhartha, "cada um tem sua própria religião". O Natal que nos sobrou é o Natal de cada um com sua própria religião, que é qualquer coisa, exceto cristã. Apenas mais um dia para pecar e depois, mesmo sem rezar sequer um pai-nosso, ser perdoado. Melhor acreditar em Papai Noel...