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3 de julho de 2007
Pan que te pariu!
Pan que te pariu!
Há alguns meses me inscrevi no programa de voluntariado do Panamericano Rio 2007 imbuído pelo espírito de comunidade, pela vontade de ajudar e participar e pela — tenho que admitir — curiosidade e oportunidade de conhecer e ver os eventos de graça. Fora isso, eu não tinha nenhum interesse, nem profissional, nem pessoal. Confesso que, apesar das dificuldades que teria em conciliar minhas atividades, eu estava até entusiasmado.

Entretanto, durante o longo processo de seleção dos voluntários, esse entusiasmo foi diminuindo. A cada muro pichado que vejo, a cada canto mijado, a cada bituca de cigarro no chão, a cada papel de bala atirado pelas janelas dos ônibus, meu espírito de comunidade diminui mais.

A cada buraco em que meu carro cai nas ruas do Rio, a cada topada que dou nas calçadas e não-calçadas, a cada guarda municipal de tocaia em um cruzamento de pouco movimento, minha vontade de ajudar diminui. A cada dezena de minutos que tenho que esperar por um ônibus, a cada real dado a um flanelinha/achacador licenciado ou não pela prefeitura, minha vontade de participar diminui.

A julgar apenas pelos buracos nas ruas e pelas bitucas de cigarro, você deve imaginar que já devo estar com aversão aos jogos panamericanos cariocas. Mas não é tão assim.

Às vezes, tenho a sensação de que são todos contra mim. Todos: prefeitura, assembleia legislativa, governo estadual, cada servidor que trabalha para eles e o próprio povo. O povo — coitado — a essa altura não tem mais condições de se corrigir. Ignorância se corrige com educação e isso já não é oferecido no Rio de Janeiro há mais de 10 anos. A minha bronca se volta principalmente aos governos (e grande parte dos demais servidores públicos) que apesar da confiança depositada e dos impostos pagos, deixaram a situação chegar a esse ponto. E deixaram por pura falta de caráter e/ou por incompetência. Falta de caráter se cura com vergonha na cara e incompetência com humildade de se admitir incapaz (e pedir ajuda ou passar a missão para quem possa cumpri-la). Mas por opção própria continuam se enganando e nos enganando, tomando nosso dinheiro e nossa paciência.

Essa história de panamericano é uma farsa. Fala-se em "investimento" para o povo, mas qual é o legado que fica? Meia dúzia de estádios e ginásios que, à exceção do Engenhão, serão novos elefantes brancos sem utilidade na já poluída paisagem carioca. Ou você acha que um velódromo vai ter muita serventia no futuro? Não enquanto não tivermos professores respeitados (bem pagos) e, principalmente, bem preparados (raridade hoje) para ensinar as nossas crianças que esporte é muito mais do que futebol.

Então, cadê o "legado"? Melhorias urbanísticas (mesmo que apenas nos arredores dos parques desportivos)? "Não deu tempo ($) de fazer." Melhoria no sistema de transportes? "Não precisa, é melhor sem, assim as pessoas têm que andar de carro e a prefeitura arrecada mais em multas e estacionamento." E o Metrô Transpan, que ligaria a Barra a Jacarepaguá e a bairros da Zona Norte e subúrbio? "Metrô? Quem falou em metrô? não lembro." Não há legado. O investimento de bilhões só trará retorno para poucos e o que sobra para a prefeitura, e portanto para o povo, será mal empregado.

Mas depois de a merda já cagada o leite derramado, não adianta forçar chorar. Agora só me resta torcer pra que tudo dê certo, para que meu prejuízo não seja ainda maior. Só não me esperem como voluntário, porque não vou trabalhar de graça enquanto os vagabundos que eu pago para terem espírito de comunidade ficam de braços cruzados olhando para o próprio rabo. P
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