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15 de agosto de 2005
Censura econômica
Censura econômica
Um dia desses eu estava assistindo à Rádio Cidade (a rádio rock do Rio) quando ouvi ser anunciada uma tal Simple Plan como a "banda da semana". Eu fiquei pensando: como uma bandinha porcaria, cópia escarrada da também medíocre Blink 182, tem esse espaço na mídia e é festejada como revelação? Que moral tem a Rádio Cidade, que raras vezes (para não dizer nenhuma) tocou Bad Religion, Pennywise e Millencolin, por exemplo, para anunciar uma tal Simple Plan como revelação na cena punk? A resposta é simples: não tem. E isso não importa. Se pagarem o jabá, a banda é boa e sua música se repete até acostumarmos com ela (e em alguns casos, até gostarmos dela). A Simple Plan até que é boa (para o que se propõe), mas daí a dizer que é uma grande revelação vai uma distância enorme. Conheço várias bandas como ela, inclusive no Brasil, a diferença é que a maioria das bandas não tem ninguém para bancar o jabá.

Veja bem, não estou acusando a Rádio Cidade de nada, até porque jabá não é crime no Brasil. Este é apenas um execício de dedução (posso estar errado). E esta não é uma prática apenas da Cidade, Jovem Pan, FM O Dia, JB FM, 98 FM todas elas devem trabalhar com jabá. A Fluminense FM (a que era a rádio rock no Rio até o início dos anos 90, também conhecida como a maldita) tentava sobreviver sem jabá e há alguns meses fechou suas portas pela terceira vez. Parece uma espécie de vício maldito, mas para mim isso é censura.

O Brasil já enfrentou diversos tipos de censura. Censura política, censuras culturais (racistas, machistas, etc.), mas a censura econômica vai sempre perdurar. Quem tem dinheiro se impõe na mídia, quem não tem é censurado. O jabá não é o único recurso da censura econômica. Outra forte ferramenta é o patrocínio. Propaganda. Quem tem dinheiro faz propaganda, quem não tem trabalha em dobro.

A essa altura da conversa, o caro leitor já deve se dado conta de que não é só no rádio que se dá essa censura. Tome o cinema brasileiro como exemplo. Até meados da década de 90, o cinema brasileiro era tido como lixo. Com a lei de incentivo à cultura, o cinema ganhou patrocínio (dinheiro) e hoje todos assistem filmes nacionais sem preconceito. Outro exemplo: você já ouviu falar no livro Contos de Fadas Celtas (Landi Editora)? Acho que não. Mas certamente já ouviu falar em Senhor dos Anéis e Harry Potter. Em comum eles têm o fato de que os dois famosos se basearam nas histórias apresentadas no menos famoso. A diferença são os milhões de dólares investidos nos mais famosos.

O mais interessante é observar que a arte e a realização da obra não são o mais importante. A maior parte do investimento vai para a propaganda. O dinheiro não é investido na qualidade da obra, mas na forma de convencer as pessoas de que aquela obra tem qualidade, mesmo que não tenha.

A censura econômica é um fato. E não há muito como escapar disso. São muitos artistas no mundo, tem que haver um critério de seleção. A liberdade plena de escolha não existe e nunca vai existir. Atualmente, a mídia mais democrática (odeio esse termo, mas é o que tenho) parece ser a Internet. Eu sou um duro e aqui estou expondo minhas idéias e minha arte. Qualquer um pode acessar o Peixe na rede e o DeviantART. Entretanto, mesmo para isso é preciso ter dinheiro. É preciso ter dinheiro para se ter um computador com acesso à Internet, tanto para escrever um blog, quanto para ler. São pouquíssimas as pessoas no Brasil que têm condições para isso. Além do mais, da pequena parcela da população que pode acessar a Internet, apenas uma mínima parte - meus 5 leitores assíduos - lêem o Peixe - por pura falta de propaganda. Quando eu juntar um dinheirinho, vou investir um pouco em propaganda para "melhorar" o Peixe. Image hosted by Photobucket.com
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