Estava assistindo na
MTV aos shows do
Live 8. Para quem não sabe (até ontem eu não sabia), o Live 8 é uma campanha que busca, através de
shows e
manifestações públicas,
conscientizar as pessoas de que é preciso acabar com a
pobreza na África. Além de terem sido muito legais, os shows tiveram uma boa causa.
Ao contrário do que se costuma fazer, esses shows
não foram beneficentes.
Não pretendiam
arrecadar fundos para nada. A única intenção era
chamar atenção para sua causa e conscientizar as pessoas de que não é possível que em um mundo que produz muito
mais do que pode consumir, pessoas ainda
morram de fome ou de outros males causados por extrema pobreza. O nome é Live 8, porque a idéia é forçar os 8 chefes de estado do G8 (os 7 países
mais ricos do mundo mais a Rússia) a dicutirem o assunto. É
ridículo que nações com recursos financeiros de sobra mantenham atitudes mesquinhas de ainda cobrar dívidas de países onde
a cada 3 segundos uma criança morre por pura pobreza.
Campanhas beneficentes desse porte são
esmolas em escala mundial. Esmolas normalmente são
paliativos para necessidades
imediatas. Esmolas
não vão resolver os problemas enquanto não se
criar condições de os necessitados poderem se levantar dignamente e resolverem
eles mesmos seus problemas. Não adianta pedir dinheiro, deve se pedir ajuda a quem realmente
pode ajudar. E é essa a idéia desse Live 8. Não é pedir esmola, é pedir aos países
mais poderosos do mundo que em sua reunião anual, ao invés de discutir interesses pessoais fúteis, discutam uma forma de ajudar milhões de pessoas que morrem todos os anos por falta de recursos. Eles pedem que os
G8 discutam o perdão das dívidas externas dos países
mais pobres do mundo e a queda das barreiras comerciais contra esses países.
A idéia é muito boa. Eu sempre fui meio
contra esmola. A situação dos necessitados é sempre
comovente (em grandes cidades normalmente é
constrangedora mesmo), mas será que estou
realmente ajudando simplesmente dando esmolas? No caso de mendigos, a esmola pode sanar uma necessidade imediata dele, mas também
não resolve o problema. Além disso, nunca se sabe se a esmola vai ser
investida de forma
correta. Ainda nesse caso, a esmola pode até atrapalhar na medida em que pode gerar no agraciado um sentimento de que é muito mais
fácil pedir do que correr atrás (por si só) da solução de seus problemas. O certo seria criar condições para que aquele que
precisa de esmolas possa sair
sozinho dessa situação. Eu sozinho não posso fazer isso. A solução seria, como no Live 8,
pedir a quem tem
poder para isso. Infelizmente moro em um país que mantém em si a segunda maior desigualdade social do mundo. E quem tem poder para mudar isso, prefere
roubar de quem está literalmente
morrendo de fome, para depois ficar
brincando de CPI. A gente fica sem saber a quem recorrer e o sentimento que fica é um misto de
raiva e
desilusão.
Só para lembrar: enquanto você lia esse texto, mais de
100 crianças podem ter morrido de pobreza, inclusive no
Brasil.