Distraidamente, eu estava
viajando no 284 (Praça Seca - Praça Tiradentes) e li um cartaz colado na janela do
ônibus que explicava como recarregar o vale-transporte
eletrônico. Lá diziam que a primeira carga aconteceria na primeira vez que o passageiro o utilizasse em qualquer ônibus. Já as recargas
só se realizarão se o passageiro utilizar o cartão em uma das três empresas mais utilizadas por ele no mês anterior. Para mim, isso só serve para uma coisa:
controlar o passageiro.
Controla de duas formas. Primeiro, o
prende, de certa forma, a determinadas empresas garantindo que ele pegue
sempre ônibus dessas empresas (o que em Jacarepaguá, acontece com ou sem vale eletrônico, já que não tem muita variedade por aqui). Em segundo lugar, controla o trabalhador ou estudante ou quem quer que seja, fazendo com que ele faça sempre o
mesmo itinerário. Esse é um caso claro em que a tecnologia nos
rouba a liberdade. Com os
antiqüíssimos vales de papel, se podia utilizá-los da forma que se
quisesse. Quem os recebesse podia
dar alguns a familiares, podia fazer o itinerário que quisesse no
dia em que quisesse... Com o eletrônico, o trabalhador é forçado a usá-lo
apenas no trajeto de ida e volta do trabalho. Ele
perdeu os recursos para administrar seus vales. O fato de o empregador dar o dinheiro da passagem para seu empregado,
não significa que o empregado
deve utilizá-lo necessariamente para esse fim. E o empregador
não tem o direito de exigir isso (não enquanto o empregado não faltar o trabalho por falta de dinheiro de passagem).
Esse é apenas um exemplo. O outro exemplo que tenho, mexe na nossa vida de maneira muito mais
grave e nem percebemos. Os atuais sistemas
informatizados dos
bancos, por um lado,
facilitam nossa vida com cartão de débito, cartão de crédito
et cetera. Por outro lado, permite
débitos indevidos, nos
obriga a dar satisfação de nossas contas a pessoas que mal conhecemos (os gerentes de banco)... São
esses sistemas, e não nós mesmos, que
administram nosso dinheiro. Aliás, o conceito dinheiro já mudou há muito tempo. Antigamente, o meu trabalho seria trocado por algo
palpável: cédulas, moedas e/ou cheques. Hoje, o dinheiro vem em forma de
impulsos eletro-magnéticos, que, como palavras,
voam ao vento. Ele
só existe na tela de um
computador. Antigamente, eu podia
segurar meu dinheiro, hoje só posso
olhar para ele. Isso se não cismarem de trocar os numerozinhos da tela do computador. Antigamente, para
provar que tinha dinheiro, bastava
abrir a mão, hoje tenho que
torcer para que nada tenha sido debitado de minha conta sem eu ver, tenho que
discutir com gerente do banco e eu tenho que entrar na
justiça para provar que não gastei o dinheiro que eu
achava que tinha. Essa tecnologia me ajudou? Ajudou quem controla a tecnologia.
Conclusão (já era tempo), o desenvolvimento da tecnologia
em seu curso normal ajuda no desenvolvimento da liberdade. Entretanto, a tecnologia é suscetível a
abusos e
falhas de quem a desenvolve ou de quem a patrocina e a controla. A tecnologia costuma
desfavorecer quem a
desconhece e liberta quem tem, de alguma forma, acesso ao seu desenvolvimento. Em outras palavras,
estude.
Esteja no controle da tecnologia para se prevenir do abuso (conscinete ou não) de pessoas mal intencionadas ou mal informadas. E nunca,
de jeito nenhum,
confie na perfeição da tecnologia. Até porque assim você a ajuda, pois seu desenvolvimento se baseia justamente em
questionamento.